MESSIAEN


Vida e obra

Olivier Messiaen (Avignon, 10 de Dezembro de 1908  Clichy, 27 de Abril de 1992) foi dos mais importantes compositores do séc. XX, tendo influenciado diferentes gerações de músicos até hoje.
Messiaen entrou no Conservatório de Paris com 11 anos, onde se manteve durante 10 anos, tendo oportunidade de estudar com Paul Dukas, entre outros. Como estudante foi notável tendo ganho vários prémios, e nas suas primeiras composições já se verificava o uso de “modos de transposição limitada” e de “ritmos não retrogradáveis”, que voltaremos a abordar mais à frente.
Com 19 anos, começa a aprender a tocar órgão com Marcel Dupré e rapidamente se torna um virtuoso no instrumento. Ao longo da sua vida, irá escrever bastantes obras para órgão (feito sem precedentes desde Bach). Em 1932, é nomeado organista da Église de la Sainte-Trinité (cargo que vai manter até à sua morte), e que irá ser o seu principal local de trabalho.
Neste período, Messiaen demonstra grande interesse pelas ondas Martenot, tendo composto uma peça para seis destes instrumentos (Fête des belles eaux), e que mais tarde terão grande importância nas suas peças orquestrais.
Durante a II Grande Guerra, é capturado pelos nazis e mantido no Stalag VIII-A. Aí conhece Jean le Boulaire (violinista), Henri Akoka (clarinetista) e Étienne Pasquier (violoncelista). Estes músicos irão tocar com o próprio Messiaen o Quatuor pour la fin du temps (1940-1941), peça composta e apresentada no próprio campo de concentração.

É uma linguagem essencialmente imaterial, espiritual, católica. Modos, realizando melódica e harmonicamente uma espécie de ubiquidade tonal, aproximam aqui o ouvinte da eternidade no espaço ou no infinito. Ritmos especiais, fora de qualquer compasso contribuem fortemente para afastar o temporal.» - Olivier Messiaen)


Depois de ser libertado, Messiaen escreve um tratado sobre a sua música: Technique de mon langage musical (1944), onde vão ser expostas e exploradas as suas técnicas musicais, abrangindo ritmos, harmonia e modos.
Se, até ao momento, muitas das obras de Messiaen são de inspiração mística e religiosa, ligadas ao “amor divino”, em 1948, termina a sua Turangalîlâ-Symphonie (palavra de origem indiana), onde vai abraçar e contemplar o amor do Homem (em contraste com o divino). Esta sinfonia foi encomendada por Serge Koussevitzky, com a seguinte sugestão: «Faça-me a obra que quiser, no estilo que quiser, com a duração que quiser, com a formação instrumental que quiser...». Pode-se dizer que Messiaen abusou um pouco: quase quatrocentas e trinta páginas de grande partitura; orquestra com, no mínimo, 103 executantes, incluindo grande aglomerado de percussão, celesta, piano solista e ondas Martenot.
A obra foi estreada em 1949, regida por Leonard Bernstein, Yvonne Loriod (que irá ser a segunda mulher de Messiaen) no piano e Ginette Martenot (irmã do próprio inventor do instrumento, Maurice Martenot) nas ondas Martenot.

Turangalîlâ quer dizer ao mesmo tempo canto de amor, hino à alegria, tempo, movimento, ritmo, vida e morte.» - Olivier Messiaen)


Messiaen ficou também conceituado como um grande pedagogo, ensinando análise e composição em várias escolas de Europa, tendo como alunos de renome como Pierre Boulez, Luigi Nono e Karlheinz Stockhausen. Como professor aproximou-se da linguagem da II Escola de Viena, o dodecafonismo, que o levou a aplicar esse método numa peça sua, Mode de valeurs et d'intensités, mas Messiaen foi ainda mais longe: não apenas seriou as 12 notas da escala cromática, também seriou outros elementos como duração, intensidade, timbre, textura, pausas, etc. Esta peça lança as principais “sementes” para o método de composição mais influente do resto do século XX: o serialismo total.



Messiaen foi também um ornitólogo amador e era completamente fascinado pelos pássaros e os seus sons. Já nas primeiras peças existem muitas referências a pássaros, mas é mais a partir da década de 50 que estes se tornam significativamente mais presentes: Le merle noir (1952) para piano e flauta; Réveil des oiseaux (1953) para orquestra; Catalogue d'oiseaux (1956-1958) para piano; Chronochromie (1960) para orquestra.

(L’Alouette Calandrelle – Catalogue d’Oiseaux)

(Pequena curiosidade, na qual que temos oportunidade de ouvir Messiaen a falar sobre pássaros.)


Messiaen ainda irá escrever mais um “colosso” do século XX:  La Transfiguration de Notre Seigneur Jésus-Christ (1965-1969). Obra de 14 andamentos, para grande orquestra, 7 instrumentos solistas e um coro de 100 elementos.



Olivier Messiaen virá a morrer no ano de 1992, em Paris. A sua música andou à volta de três mundos: Deus (Quarteto para o Fim dos Tempos), o Homem (Turangalila) e a Natureza (Catálogo dos Pássaros). Criou o seu próprio estilo musical, experimentando também um pouco de tudo, mas não fez “escola”, isto é, não condicionou os seus alunos com a sua linguagem musical, contudo, foi ele que lançou novos métodos e técnicas como o serialismo.



Música

A música de Messiaen tem várias faces, pois Messiaen não teve pudor em experimentar várias formas de produzir música: serial, modal, música concreta, etc. Porém, um elemento fundamental na sua música era a cor (Messiaen via cores ao ouvir música - «sinestesia»).
No seu tratado Technique de mon langage musical (1944), Messiaen apresenta-nos os Modos de Transposição Limitada. São escalas com pelo menos um eixo de simetria, e com número limitado de transposição. Quanto menor número de transposições, mais eficaz é, representando para Messiaen «o charme das impossibilidades».


1ºModo:

 










2º Modo:

 


3º Modo:

 


4º Modo:

 








5º Modo:

 








6ºModo:

 









7º Modo:

 








Messiaen também abusava do uso de palíndromos rítmicos, ou “ritmos não retrogradáveis”. Ritmos, estes, que tinha um eixo de simetria e que lidos de trás para a frente ou de frente para trás eram idênticos («o charme das impossibilidades»). Muitos destes complexos ritmos já existiam na cultura indiana, que muito influenciara o compositor.















Links para outras músicas:

Quarteto para o Fim dos Tempos (completo)

Sinfonia Turangalîlâ (completo)


Bibliografia:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Messiaen>
<http://en.wikipedia.org/wiki/Modes_of_limited_transposition>
Taruskin, Richard. The Oxford History of Western Music.
Grout, Donald Jay. A History of Western Music.






Autoria
João Caldas